O homem andava pela silenciosa noite na alameda escura,
em seguida a chuva caia bravamente e molhava-lhe os ombros cansados. Era sexta
feira e ele havia saído de casa para embriagar-se e comprar cigarros. A noite
mal começava.
Depois de andar muito pela alameda, ao final dela
encontrou um pequeno hotel, adentrou o recinto e averiguou se tinha vaga para
aquela noite chuvosa. Logo que fora atendido pela recepcionista subira até o
quarto andar e acomodara se em uma cama, esta parecia não receber hospedes há
séculos, os lençóis cheiravam a mofo, ou pior, fediam à morte.
Antes de deitar fumou um cigarro, o que fez com que o
quarto parecesse vivo, a fumaça espalhava-se pelo pequeno recinto trazendo
consigo algum tipo de sinal de vida. Adormecera, finalmente conseguira repousar
e descansar a pobre alma que perambulava por muito tempo em busca de paz e
conforto. Algumas horas lhes eram suficientes para que seu corpo mórbido se
regenerasse e pudesse sair pelo amanhecer.
Amanheceu e a cabeça de Merselot girava sem parar, ele
nem conseguira levantar da cama, tentou fazê-lo, mas não obteve sucesso, visto
que ainda se encontrava em estado de embriaguez profunda. Juntou-se aos lençóis
e enrolou-se novamente neles e adormeceu outra vez.
Horas, que na verdade mais pareciam anos se passaram e
ele acordou com uma forte batida na porta de seu quarto, levantou ainda meio
tonto para ver quem era e o que queria, era a moça da recepção avisando-o de
que seu tempo tinha expirado e ele tinha de sair. Assim que a recepcionista deu
as costas, Merselot vestiu-se adequadamente e retirou-se do quarto rumo a
portaria do hotel.
Saiu caminhando lentamente, sentia seu corpo flutuar, não
sentia seus pés tocarem o chão sólido e duro, a calçada parecia-lhe nuvem. Era como
se estivesse pisando em algodão em câmera lenta, quase congelando a imagem.
A manhã findou. E Merselot havia chegado a um bosque, um
grande bosque verde e hermético, coberto pela vegetação e livre até mesmo de
raios solares. Ele próprio não sabia como havia chegado lá, lembrava que depois
de acordar e sair andando pela calçada próxima do hotel onde esteve hospedado
sentia como se flutuasse, e fora isso não se lembrava de nenhum outro episódio.
Sentou-se sob uma grande pedra e buscou pelo maço de
cigarros em seu bolso, mas enigmaticamente não o encontrou, em seguida olhou
para frente e avistou uma grande horta. Pensou ele em como poderia ser possível
uma horta em meio a selva, e em frente a horta havia uma placa de madeira
dizendo “ seja bem vindo, aqui é seu novo lar, cuide de suas hortaliças”.
O homem sentiu um brilho no fundo de seus olhos secos,
sentiu o coração elevar-se para fora do peito, sentiu-se pleno como nunca se
sentira antes em momento algum de sua vida.
Ele acabara de descobrir o sentido para sua existência, a
decadência explodira e fora deixada para trás enquanto ainda estava na cidade
fria e desprovida de vida, agora ele encontrara um verdadeiro motivo para
viver. As hortaliças.
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