sábado, 14 de março de 2015

O bosque das hortaliças

O homem andava pela silenciosa noite na alameda escura, em seguida a chuva caia bravamente e molhava-lhe os ombros cansados. Era sexta feira e ele havia saído de casa para embriagar-se e comprar cigarros. A noite mal começava.
Depois de andar muito pela alameda, ao final dela encontrou um pequeno hotel, adentrou o recinto e averiguou se tinha vaga para aquela noite chuvosa. Logo que fora atendido pela recepcionista subira até o quarto andar e acomodara se em uma cama, esta parecia não receber hospedes há séculos, os lençóis cheiravam a mofo, ou pior, fediam à morte.
Antes de deitar fumou um cigarro, o que fez com que o quarto parecesse vivo, a fumaça espalhava-se pelo pequeno recinto trazendo consigo algum tipo de sinal de vida. Adormecera, finalmente conseguira repousar e descansar a pobre alma que perambulava por muito tempo em busca de paz e conforto. Algumas horas lhes eram suficientes para que seu corpo mórbido se regenerasse e pudesse sair pelo amanhecer.
Amanheceu e a cabeça de Merselot girava sem parar, ele nem conseguira levantar da cama, tentou fazê-lo, mas não obteve sucesso, visto que ainda se encontrava em estado de embriaguez profunda. Juntou-se aos lençóis e enrolou-se novamente neles e adormeceu outra vez.
Horas, que na verdade mais pareciam anos se passaram e ele acordou com uma forte batida na porta de seu quarto, levantou ainda meio tonto para ver quem era e o que queria, era a moça da recepção avisando-o de que seu tempo tinha expirado e ele tinha de sair. Assim que a recepcionista deu as costas, Merselot vestiu-se adequadamente e retirou-se do quarto rumo a portaria do hotel.
Saiu caminhando lentamente, sentia seu corpo flutuar, não sentia seus pés tocarem o chão sólido e duro, a calçada parecia-lhe nuvem. Era como se estivesse pisando em algodão em câmera lenta, quase congelando a imagem.
A manhã findou. E Merselot havia chegado a um bosque, um grande bosque verde e hermético, coberto pela vegetação e livre até mesmo de raios solares. Ele próprio não sabia como havia chegado lá, lembrava que depois de acordar e sair andando pela calçada próxima do hotel onde esteve hospedado sentia como se flutuasse, e fora isso não se lembrava de nenhum outro episódio.
Sentou-se sob uma grande pedra e buscou pelo maço de cigarros em seu bolso, mas enigmaticamente não o encontrou, em seguida olhou para frente e avistou uma grande horta. Pensou ele em como poderia ser possível uma horta em meio a selva, e em frente a horta havia uma placa de madeira dizendo “ seja bem vindo, aqui é seu novo lar, cuide de suas hortaliças”.
O homem sentiu um brilho no fundo de seus olhos secos, sentiu o coração elevar-se para fora do peito, sentiu-se pleno como nunca se sentira antes em momento algum de sua vida.
Ele acabara de descobrir o sentido para sua existência, a decadência explodira e fora deixada para trás enquanto ainda estava na cidade fria e desprovida de vida, agora ele encontrara um verdadeiro motivo para viver. As hortaliças.











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