Não acreditou, não pode crer no que seus olhos viam, não hesitou e aproximou-se dela e perguntou quem era, explicando que conhecera uma moça a muitos anos atrás semelhantemente igual a ela, mas não achava que fosse possível, visto que as pessoas envelhecem e Margarida deveria estar com um aspecto menos jovial que o da moça em questão.
Seus olhos arregalaram, sua respiração diminuíra quando a jovem confirmara chamar-se Margarida. Não, não podia ser pensou ele. A moça não o reconheceu imediatamente, depois de alguns minutos de conversa o identificou, o diálogo fora breve, ele estava apressado e ela tinha um compromisso, mas não deixaram de marcar um encontro para conversar. E assim foi, marcaram para alguns dias depois no parque central.
Os dias passaram e o dia chegou, e lá estava ele usando um casaco preto, usava cachecol cinza, e fumava enquanto a esperava. Ele quase se camuflava com o cinza da cidade, o local estava abandonado, poucos o visitavam, os bancos estavam enferrujados, as árvores tristemente enfadonhas e o parque decrépito jazendo lentamente com as idas e vindas das estações do ano.
Alguns minutos de atraso e ele acabara seu cigarro, dera uma volta e retornara ao mesmo local. Ah, finalmente avistara seu vulto em negros trajes discretos, o cabelo esvoaçante, passos leves, parecia flutuar. Ventava muito naquela tarde e quanto ao sol, ah meu caro, esta estação do ano ele pouco surge ao horizonte, mas esporadicamente surgia e tornava a desaparecer tão espontâneo e sutil, tão breve.
Ela chegou, seu perfume delicadamente estonteante o deixara sem palavras por alguns segundos, apenas a fitara ainda sem crer em sua presença ali, bem diante de seus olhos, no velho parque onde muito se divertiram na infância abandonada, tão abandonada em memória quanto o parque hostil.
George encabulado pediu se podia abraçar Margarida, a moça respondeu que sim, ela não compreendia o real motivo de todo o nervosismo que percebera no jovem, pensava ela que tal comportamento fosse exagerado e desnecessário. Afinal, não passavam de amigos de infância, crianças que desfrutavam suas horas brincando no parque central. Mas para George a velha infância que para Margarida estava enterrada no passado e esquecida em memória era tão importante quanto o respirar de um ser vivo, sem o ar ele morre, e para George reencontrar Margarida era como voltar a respirar.
Sentaram-se nos velhos balanços que rangiam estrondosamente, os balanços moviam-se lentamente, e George e Margarida conversavam coisas triviais. George queria saber sobre Margarida, a jovem ia respondendo suas perguntas e nada perguntava. De repente começara a se irritar com a situação e despedira-se de George e saíra caminhando rapidamente. George correu atrás da moça que o ignorara. Ele, revoltado com o comportamento de Margarida fora embora.
Dias se passaram e em um dos passeios de Margarida George cruzara o seu caminho, ela caminhava sob um penhasco, ventava muito e George lhe dera girassóis e se desculpara pelo episódio de dias atrás, Margarida agradeceu pelas flores e disse que não tinha nada a falar sobre o assunto, que até já havia esquecido.
Pela segunda vez, e sem intenções de feri-lo, George sentiu-se massacrado por Margarida, não hesitando, empurrou-a do penhasco, seu corpo flutuava entre girassóis que como em câmera lenta desfocada mesclavam cores, sons e corpos despedaçados.