quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O peso da existência




Existem coisas na vida que não nos damos conta, tamanha é a sutileza que acabamos por não perceber determinados acontecimentos na vida.
Acredito cautelosamente que existe uma grande diferença entre viver e existir. Existir todos existimos, para que o primeiro verbo se manifeste, precisamos antecipadamente do segundo. Pois bem, penso que muitas pessoas, para não dizer a maioria delas, apenas existem, e em momentos fracionários vivem.
A existência nada mais é que um fardo, um grande peso que carregamos nas costas, que empurramos para o cume da montanha, sendo este um caminho íngreme e um trabalho árduo. É como carregar uma grande pedra sobre nossas cabeças. E o mesmo ocorre conosco em relação ao planeta. Pesamos sobre a terra e carregamos um peso sobre nós.
Existir é tão fácil, mas e  viver? Quem se sente vivo na maioria do tempo? Quem não sente o peso da existência sobre os ombros?
Podemos nos iludir e crer que a vida é bela e mágica, muito boa, e por vezes até é. Nada é tão ruim e ou tão bom que dure para sempre. Tudo é tão efêmero, a vida passa feito um furacão perante nossos olhos e muitas vezes nem conseguimos acompanha-lo por muito tempo, e assim some no horizonte.
Existir é um verbo dolorido, nos deixa enfadonhos e demasiadamente fracos, sonolentos e sem fé. Fé na vida, no futuro, na humanidade e principalmente em nós mesmos.
Eu até ousaria a mudar o questionamento feito por Sartre, ao invés da condenação à liberdade (qual liberdade?), deste modo penso que estamos condenados à existir.
Viver é um ato que cabe a poucos, existir cabe a todos. Quem realmente sente-se vivo?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Chá das "cinco"

Era um fim de tarde de uma sexta-feira qualquer, ele caminhava a passos lentos, usava um terno preto, camisa azul escuro e um chapéu também de cor preta. Tinha a face rosada e olhos azuis e um ar misterioso. De repente parou de caminhar e ficou em pé na parada de ônibus, acendeu um cigarro e lentamente o consumia. O ônibus chegou e ele continuava imóvel no mesmo lugar. Ele esperava sua amada que viria de um canto qualquer da grande cidade acinzentada que neste fim de tarde se encontrava um pouco menos cinza que o habitual. O cinza era devido à fumaça poluente das fábricas que por ali estavam instaladas, o fim de tarde era menos cinza porque era sexta-feira e por dois dias as fábricas fechavam. Era menos cinza porque seus trabalhadores paravam e poderiam usufruir dois dias de descanso.
Mais um ciclo semanal se fora. Mas voltando ao nosso protagonista, apesar da cara avermelhada devido ao álcool ainda tinha boa aparência. Reconhecendo-o de alguns poucos anos atrás, podia perceber que tinha um charme peculiar, parecia ter rejuvenescido, porém continuava a se deleitar aos prazeres do álcool. Tinha mulher, filhos e um bom trabalho. Os colegas do departamento diziam que era um bom homem, mas que estava em estado de perdição. Falavam que a bebida em excesso o consumia e não ele a ela.
As pessoas mudam, envelhecem, rejuvenescem, se entregam aos vícios, eliminam- os. Iniciam romances, encerram-os.
Ciclos e ciclos meu caro, eis a catástrofe da vida etérea. O que não podia deixar de notar era o ocorrido no fim da tarde de uma sexta-feira qualquer.