sábado, 29 de dezembro de 2012

Falsos palácios

E se pensarmos bem quantos palácios no decorrer da história são construídos de forma pomposa, ostentando beleza e magnitude e nada mais são do que construções fajutas, feitas a base de mentiras. Sim, tão frágeis a ponto de um vento qualquer coloca-los a baixo a qualquer segundo, palácios aparentemente resistentes e charmosos que nada mais são do que castelos de areia.
Castelos belos e bem definidos representando fortaleça, poder e exuberância, construções cujo alicerce é tão desmontável quanto um jogo de lego, exatamente, tão quanto.
O mundo civilizado esta cheio destas obras monumentais, mas gostaria de saber quantos destes primorosos palácios se mantém firme frente a uma tempestade, vendaval, vulcão, furacão ou qualquer intempérie. Quantos deles resistem a um teste de qualidade.
Sendo assim, o ideal é uma casinha modesta, bem construída e planejada, sem nada de ostentações, nada de exageros. Uma casinha acolhedora e confortável. Invencíveis à uma guerra e resistentes ao tempo.
Estas, eu acredito que com planejamento, e materiais verdadeiros sejam tolerantes à violência da natureza. Estas eu creio que resistirão, e estas estão aptas a se viver dentro.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O fim


E tudo que começa termina. Aquele pé de feijão, clássico, que todo mundo já deve ter ao menos uma vez na vida plantado em um pequeno algodão, plantamos, ele cresce, vive um tempo e depois morre. Os lindos botões de rosa desabrocham e depois secam.
A primavera dá as caras, tudo floresce, o sol seca, e o inverno mata. Não há mal que dure pra sempre, o que vem volta, viemos ao mundo, nele habitamos, e por fim, independente de termos uma vida plena e satisfatória acabamos por retornar ao universo em forma de carne putrefata, ossos e depois o pó. E assim é com tudo, não há nada que fuja deste ciclo enfadonho.
Os produtos do supermercado, eles vem com prazo de validade, se não o consumirmos acabamos por perdê-los, os objetos, ou por deterioração natural, descuido ou pela obsolescência também se vão. Nossos mascotes e fiéis animaizinhos também vivem um determinado tempo e acabam se despedindo.
Amigos, colegas, família, tudo se esvai num determinado espaço de tempo, causa e circunstância para além de nossos alcances. As pessoas passam por nossas vidas, e seguem seus trajetos que diferentes dos nossos dão continuidade a novas vivências e experiências. Perdemos tudo, seja pelo tempo, caminhos diferentes, mudanças e ou o pior de tudo, a pior das perdas, a morte. Na verdade tudo que vive, morre, seja de forma denotativa ou metafórica. Plantas morrem, animais morrem, amizades morrem e amores morrem. Tudo se acaba, é só uma questão de tempo, dias, meses e ou anos.
Que tudo seja vivido com a maior intensidade possível, estamos condenados a despedidas voluntárias e involuntárias.
O efêmero é o que se faz presente em nossas existências fajutas. Um brinde ao presente, um adeus ao passado e bem vindo futuro!


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Beijos sangrentos

Os finais de tarde eram todos iguais, com algumas exceções raras. Uma suave melancolia tomava conta de si enquanto olhava as aves ao longe do céu que perambulavam anunciando a noite.
Ele era solitário e pouco eloquente, portava uma apatia frente ao mundo e era pouco vivaz. Tinha dificuldade em relacionar-se, para ele as relações humanas eram de extrema falsidade ou oportunas.
Fortunato passara a adolescência enfurnado em uma escola para padres, sua mãe assim escolhera o seu destino com antecedência antes mesmo dele poder refletir no que desejaria para si.
Tornara-se padre, ainda bem moço, era jovem e provido de uma beleza sórdida. Fortunato rezava todas as manhãs e pedia aos céus que o expulsassem da igreja, ele queria viver, conhecer moças, sair daquela vida que para ele era de miséria interior. Ele cético, porém crente na percepção de seus antecessores, já afastados do cargo de santidade o mandassem embora notando que o rapaz nada tinha a ver com aquele universo de hostilidade.
Uma manhã, Fortunato fora surpreendido em seu quarto antes mesmo de ter saído de sua cama, um padre idoso o visitara para uma conversa amigável e a respeito de seu desgosto.
Porém, o padre muito esperto, e percebendo a insatisfação do jovem, acreditava que apesar de sua infelicidade estava estigmatizado ao que havia sido reservado para ele. Joaquim, o padre velho, dizia a Fortunato que ele era abençoado e que devia fazer jus ao que a ele tinha sido predestinado.
Para Joaquim, Fortunato não passava de um jovem rebelde e que sua rebeldia o trazia desgraça e descontentamento, porém, não se deteve demasiadamente. Falou o que pensava e o que havia percebido com o decorrer do tempo e saiu de cena.
Fortunato ficara ainda mais intrigado com a visita inesperada e com as palavras de Joaquim.
Aquele dia era de profunda melancolia e recolhimento. Fortunato não saíra do quarto nem mesmo para alimentar-se. Pensara durante todo aquele dia, não se manifestando, acreditava que pudesse encontrar uma solução para seu problema de insatisfação, e de sentimento de desgraça em sua vida.
Fortunato já um sacerdote, visto com bons olhos pelos seus paroquianos e população com fé e frequentadores da casa santa, via-se em pé de guerra com deus, oscilando entre amor e devoção e abandono, perdia-se em devaneios com drogas a fim de fugir dos momentos de infortúnio. Sua mãe, uma santa mulher, que com o nascimento de Fortunato o entregara a deus, sentia-se realizada e plena sendo o filho um padre, que seguia as leis bíblicas, era fiel a deus e obedecia as ordens celestiais. Ela sabia do desencanto do filho, mas acreditava que com o passar do tempo, Fortunato acatara suas ordens e por fim satisfazia-se e aprendera a amar o sacerdócio, porém jamais sonhara que o filho pretendia abandonar aquela vida a ponto de entregar-se às drogas ilícitas e tendo ele alguns pensamentos de suicídio.
Durante as poucas visitas do filho, Helena sentia um vazio em seus olhos, uma tristeza nas palavras, mas ainda era plena e feliz pelo filho estar representando deus.
Naquela tarde onde Helena encontrava-se à sombra de uma árvore acompanhada de Fortunato, ela o questionara sobre a vida sacerdotal. Ele em momento algum demonstrou alegria, a mãe sentia a má fé do filho frente à profissão escolhida por ela desde a maternidade, mesmo assim jamais o incentivara a abandonar.
Os dias foram passando, os meses também, e a angústia de Fortunato só aumentava. Um dia, ele tomado de dor pensou em como manter duas vidas, ou até mais de duas. Traçou um perfil novo, novas vestes, pensamentos e atitudes. A partir daí as coisas começariam a tomar um novo rumo em sua vida e na comunidade onde vivia.
Em uma noite chuvosa Fortunato saíra a perambular as ruas pacatas do pequeno vilarejo e avistava moças bonitas, prostíbulos e tabernas. Ele sangrava por dentro, sentia-se se seduzido pelas tabernas obscuras onde beberrões saciavam sua sede soturna e desejoso daquilo adentrou ao local de pecados.
Extasiado, Fortunato não resistira e começara uma peregrinação devasta por locais de perdição humana.
Assim foi por inúmeras noites, até que em uma delas, Fortunato conhecera o demônio. Ele se apresentava vestido elegantemente, fumava charuto, bebia e falava macio. Os dois começavam uma conversa longa e profunda a cerca da humanidade e seus desejos escondidos e temidos, sendo assim vivendo de maneira frustrada pelo temor da mão de deus.
Ficaram por horas dialogando, até que a taberna encontrava-se vazia e o taberneiro os convidou a irem embora, já passava das quatro e ele precisava fechar e dormir. E assim foi eles saíram do recinto, despediram-se e cada um tomou um rumo oposto em relação ao outro.
No dia seguinte Fortunato dormira o dia todo e por consequência fora visitado por um paroquiano que estava preocupado com o seu sumiço repentino. Padre Onofre percebera a mudança na face de Fortunato, deduzindo que algo de grande relevância havia ocorrido na noite anterior. E ele estava correto em sua dedução, Fortunato estava seduzido pela noite que o pequeno vilarejo oferecia em segredo.
A noite chegou e Fortunato não resistira e saíra novamente em busca de emoções para sua vida monótona. Ele e o amigo misterioso que encontrara na noite antecedente não haviam combinado nada. Mas Fortunato desejava reencontra-lo, sentia que tinha algo a aprender com o amigo oculto.
Chegando à mesma taberna que frequentara uma noite antes, Fortunato entristeceu ao perceber a ausência daquele homem tão misterioso e sábio. Pediu uma bebida, adquiriu cigarros e sentou-se em uma mesa afastada, passou horas ali bebendo e observando o comportamento e as conversas dos taberneiros ali presentes.
Quando o relógio anunciou meia noite, a porta da taberna se abriu e junto com ela um vento gritante adentrara o recinto e eis o amigo soturno. Fortunato já em êxtase alcóolico avistou o amigo e aguardou por instantes até que o nobre cavalheiro o abordasse.
A taberna estava cheia, os homens que ali se encontravam bebiam, jogavam, conversavam alto, alguns gritavam, outros faziam apostas em jogos de azar. Era uma verdadeira libertação da luz do dia onde todos de alguma forma tinham uma vida diferente daquela noturna.
O cavalheiro distinto se aproximara do balcão e pedira uma bebida, acendera seu charuto e se se encostara à parede de pedra ao lado do balcão. Ali ficara por alguns minutos até avistar Fortunato. Assim que o viu aproximou-se do jovem padre a fim de seguir o diálogo que parecia incessante.
Fortunato sentia-se em estado de graça com a nobre presença do cavalheiro misterioso, sentia-se protegido e sentia uma sensação forte e demasiadamente estranha, mas aquilo o agradava. Como na noite anterior, os dois deram início a uma conversa duradoura que vingou até que novamente o taberneiro pedisse que se retirassem devido ao horário.
Mais uma vez eles saíram da taberna, mas diferente da noite anterior Fortunato desta vez havia sido convidado a ir a outro local, ele aceitara, nem tudo se perdera, ele ainda tinha a sede da madrugada.
Chegaram a uma casa em meio à mata, cercada de felinos a velha cabana parecia abandonada a tempos, o mato adentrava o lúgubre recinto e ao longe se ouvia uivos de lobos famintos. Fortunato e o cavalheiro oculto adentraram o inóspito ambiente. Lá Fortunato fora surpreendido com o que encontrara. Ficara sem palavras por instantes e sem reação.
Luzes, bebidas, o aroma noturno e mulheres. A primeira reação pós-choque foi de fuga, mas Fortunato fora impedido de abrir a porta que rangia sem ser tocada. Em seguida viera até ele uma dama usando trajes sensuais e o pegou pela mão, o rapaz ficara pálido e acanhado, e ao mesmo tempo parecia gostar do que acontecia a ele. Minutos depois, quando ele caíra em si, o misterioso homem sumira deixando Fortunato a sós com as ilustres damas da noite.
Na manhã seguinte Fortunato acordara com o sino tocando anunciando que já eram dezoito horas, ainda zonzo e sem compreender o que acontecera na noite passada e como havia chegado a casa depois de ter estado em embriaguez profunda e sem saber o que ocorrera na cabana.
As primeiras horas em que Fortunato esteve acordado sentira verdadeiro pânico e desespero. O que mais o atormentava era o esquecimento, a perda da memória e a falta de controle sobre si. A noite chegou e ele preferia se resguardar, colocou-se a rezar e depois adormeceu.
O que ocorrera na noite que antecedeu era apenas o início, e Fortunato estava entrelaçado àquele universo onde os pecados prevaleciam. Acordara banhado em suor na madrugada e percebera uma marca em suas costas, marca esta de sangue e inexplicável. Não sentia dor, e cicatrizara rapidamente. Fortunato perdia-se em devaneios, começou delirar e sua febre aumentara.
Finalmente o dia chegara e com ele veio sua mãe, esta viera de longe para visitar o filho, recebera uma carta de um dos sacerdotes relatando o estado de estranheza do filho. Ficara amedrontada ao ver o filho, não o reconhecia.
Fortunato dormira durante a estada da mãe, um curandeiro do vilarejo fora chamado para ver Fortunato, o ancião nada pode fazer, preparou ervas e banhou-o. Pediu que procurassem um médico na cidade, não conseguindo detectar nada que estivesse ao seu alcance no jovem.
Na manhã seguinte a mãe de Fortunato voltara para casa recomendando aos sacerdotes que tomassem conta do filho e em caso de piora a chamassem.
Repentinamente depois de dois dias Fortunato sentia-se bem e disposto, estava transformado. Mandara uma carta à mãe avisando de sua melhora e satisfação na vida sacerdotal. Milagrosamente os problemas pareciam ter desaparecido. O jovem se encontrava em estado de vivacidade e não aparentava doença ou perturbação. Tudo havia sido solucionado.
Rezava suas missas com zelo e devoção, as moças cristãs da comunidade passaram a vê-lo com pureza e Fortunato percebia o interesse quando vinham se confessar. Não demorou para que Fortunato iniciasse um romance com uma das moças que frequentavam a igreja.
Mantinham o caso em segredo, a moça o visitava todas as madrugadas em seu quarto. Não passara um mês e a jovem aparecera misteriosamente morta próxima a um lago longínquo. As investigações foram insuficientes para que descobrissem o que ocorrera.
E assim foi por muito tempo, seguidamente jovens cristãs apareciam mortas em matas, cemitérios, casas abandonadas. A polícia local não dera conta das investigações e acionou a polícia da cidade local, esta também falhou e nada fora descoberto.
Os crimes seguiam e Fortunato era muito elogiado pelos cristãos da comunidade e pelos sacerdotes. A jovialidade, tranquilidade e benevolência de Fortunato o salvavam a cada crime cometido por ele.
E se passaram alguns meses, e tudo parecia ter cessado, nada de sumiços, crimes e nem pavor, Fortunato havia se apaixonado pela última donzela a quem mantinha sigilosamente um caso. O romance foi descoberto pelos padres que o questionaram a respeito e ele decidira casar-se com a moça. Nada mais ocorreu, e aquele vilarejo estava a salvo do lobo faminto de ovelhas ao relento, que agora não corriam mais riscos de ataques Feitos por um devorador de jovens moças ingênuas, as quais tinham suas vidas abaladas por uma paixão e queimariam no inferno ainda depois de terem sido assassinadas.





















A tragédia na arte

Aristóteles já dizia que um homem quando vê a tragédia, não sente desejo de cometer atos malévolos. A tragédia está intrínseca na vida do homem. Este se sente com a ausência de desejos de agir de forma trágica quando assiste a um ritual onde foi usado de violência.
Seria talvez o caso de o teatro, o cinema e outros meios, atribuírem à tragédia como uma válvula de escape para o homem? Este, extasiado pela tragicidade alheia não quereria para si o mesmo em sua humilde realidade? Ou ainda como muitos pensam, e que de fato pode vir a ocorrer, sendo a tragédia um modelo para a violência real entre os homens?
Qual o papel da arte da tragédia ou da tragédia na arte para a humanidade?
A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Estaríamos libertos deste desejo de vingança, morte e maldade, ainda que muitas vezes gratuita?







Imagem extraída do filme: A fonte da donzela de Ingmar Bergman.