Era uma noite fria e chuvosa, o pessoal já havia ido para
casa, era sexta-feira e todos ansiavam pela noite que antecedia o final de
semana, exceto Eldon, um cientista fissurado pelo trabalho, um apaixonado pelas
pesquisas laboratoriais e visto como um insano por muitos. Eldon acreditava no
poder da mutação, levava suas pesquisas extremamente a sério e não abandonava o
desejo de conseguir provar que estava certo em relação a isso. Eldon tinha uma
teoria depois de longos anos de estudo de que
poderia transmutar vírus, estados psíquicos e doenças de um corpo para
outro e posteriormente remover a doença do corpo doente e adormece-lo em um
tubo de ensaio e mantê-lo lá eternamente.
Dias antes Eldon havia feito uma grande encomenda de
ratos, ele tinha por meta ultrapassar seus limites e aperfeiçoar sua pesquisa
onde buscava comprovar que era possível retirar uma doença de um corpo e
transferi-la para outro corpo, curando assim o primeiro e adoecendo o segundo.
Pois bem, Eldon tinha uma irmã doente, extremamente
doente cuja cura estava distante da medicina convencional, então ele passou a
se dedicar profundamente em sua pesquisa a fim de cura-la.
E assim o fez. Naquela noite de sexta-feira chuvosa onde
seus colegas se encontravam em seus recintos, em festas e bares da cidade,
Eldon aproveitou que o laboratório ficaria livre somente para ele e trouxe sua
irmã até o local, depois de meses de pesquisa, testes com animais, Eldon achou
que estava na hora de contribuir com a saúde da irmã e igualmente com a
medicina.
Chegando ao laboratório raios e trovões amedrontavam a
cidade, o céu estava escuro e a chuva caia incessantemente. Eldon a carregou em
seus braços até a sua sala acomodando-a em uma cadeira com fios elétricos que
se interligavam à grande tempestade, outros fios ligados à energia elétrica do
local. Anexou ao corpo da irmã todos estes fios de eletrodos e a deixou ali por
um instante. Enquanto isso ele pegou um dos ratos do laboratório e agregou fio
a fio que estava já em contato com o corpo doente da irmã ao pequeno corpo do
rato. Depois de pronto sentou e aguardou relampejos e luzes vivas ao céu.
Algumas horas se passaram e tudo seguia normalmente e de
modo pacato. As horas iam passando, e o relógio marcava 10 para a meia noite,
então um grande raio se fez presente deixando o laboratório azul ofuscantemente
vivo, os fios começavam se dissipar, correntes elétricas explodiam em uma simbiose
perfeitamente harmônica e vulnerável ao poder atômico começava ultrapassar
todos os limites do jovem cientista.
Todo o seu controle estava agora longe de seu alcance e
ele perdera todas as suas cartas do jogo e já não tinha mais como saber o que
de fato estava ocorrendo. Algumas horas se passaram e Eldon adormeceu.
Quando desperto na manhã seguinte se encontrava solitário
em seu laboratório, começara vasculhar o local procurando pela irmã e o rato.
Visto que a irmã não caminhava, o que teria acontecido a ela depois da
experiência, preocupou-se, mas sentia-se demasiadamente excitado ao perceber a
ausência de ambos ali no local. Depois de uma busca frenética e incessante
cansou e foi para casa, nada poderia fazer até o exato momento.
No sábado à noite Eldon aceitara o convite de amigos para
sair beber, passou horas na rua bebendo com os amigos e se embriagara a tal
ponto de esquecer a experiência da noite anterior. Ele estava transtornado
demais para lembrar-se de qualquer coisa, sua mente já estava exausta e ele
exaurindo álcool pelos poros.
Quando retornou ao lar, abriu a porta devagar, tentou
acender as luzes, o que fora impossível, a casa encontrava-se desprovida de
energia elétrica, então Eldon adentrou o recinto, subira até o sótão e
adormecera.
Naquela madrugada Eldon fora surpreendido por um grande
rato falante, o rato o surpreendera no momento sublime de sono agudo. Eldon
despertara assustado com a voz grave do rato o questionando a respeito da
experiência, primeiramente Eldon atribuiu o ‘insight’ ao álcool ingerido na
noite que antecedia aquele momento relativamente grotesco para si. E o rato com
ar irônico afirmara:
-Isto não é um sonho, tampouco um pesadelo, eu existo, eu
falo, eu estou conversando com você.
Eldon coçou a cabeça, arregalou os olhos em direção ao
rato e nada disse, as palavras lhe faltavam naquele instante que o possuía
lentamente até que desmaiasse e caísse então em sono profundo novamente.
O rato ali permaneceu e aguardara até o momento em que
Eldon naturalmente despertasse. Isso levou algumas horas que não incomodaram a
aberração criada pelo cientista, que agora sim concordava com os colegas de
trabalho de que sim, de que teria enlouquecido.
Eldon tentou fugir, tentou abandonar a casa, mas fora
impedido pelo rato que queria uma explicação. Então Eldon buscou acalmar-se e
tentar uma possível resposta para o grande roedor, e disse-lhe:
-Eu o criei. Eu o fiz, porém não me pergunte como isso
ocorreu, eu só queria curar minha irmã doente, queria transferir sua doença
para si, desejava isso mais que qualquer outra coisa. Eu ia retirar todo o mal
de seu pobre corpo pequeno e peludo, mas isso fugira de meu controle e agora
nada mais posso fazer.
O roedor ouviu com atenção e o intimou para que fossem ao
laboratório, e assim foi. Eldon cedeu ao pedido do rato, já que não tinha outra
escolha se não esta e então foram. Chegando lá Eldon ainda sentindo-se
embriagado tentando manter-se tranquilo e sensato mostrou como foi feita a
experiência, era o que o rato queria saber.
Então o forte rato o
amarrara na mesma cadeira, o amordaçara e capturara a doença de sua irmã salva
em um tubo de ensaio e ligou a ‘máquina’ e transferiu o grande mal para o
cientista. O rato agora se sentira vingado e a passos lentos caminhara rumo à
vida humana.