segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O homem solitário

O sol se esvaía em raios pouco luminosos, porém ainda vivos o bastante para refletir sua face recostada na abandonada parada do velho metrô. Era um sujeito peculiar, encontrava-se em estado de pura embriaguez emocional, distante em seus pensamentos, segurava entre os dedos um cigarro que se apagava lentamente sem que fosse usufruído. Os transeuntes eram efêmeros e nem o percebiam. Mas ele estava ali, paralisado, desprovido de qualquer ação notória. Seu cigarro chegara ao fim sem que ele o aproximasse dos lábios, seus olhos miravam o plácido horizonte onde as nuvens moviam-se num piscar de olhos. Assemelhava-se a uma escultura viva, e os ponteiros do relógio percorriam sua rota enquanto as velhas tricotavam no banco ao lado. Um barulho insuportável a qualquer ouvido sensível o trouxera a realidade, uma lágrima molhou a fétida calçada como uma chuva instantânea e forte o suficiente para lavar a alma suja de qualquer cidadão em estado de decomposição ainda em vida. Um jovem encontrava-se caído nos trilhos, lavado de sangue, levantando sua mão gritou: “salve-me”, todavia, aquela excessiva  quantidade de cédulas de identidade que por ali passavam o observaram com certo descaso percebido a cada olhar em direção ao jovem e seguiam em frente sem olhar para trás. Em seguida o jovem caiu e ali ficou, os passageiros seguiam seus cursos projetados e o homem saiu caminhando rumo ao nada.

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