segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O homem solitário

O sol se esvaía em raios pouco luminosos, porém ainda vivos o bastante para refletir sua face recostada na abandonada parada do velho metrô. Era um sujeito peculiar, encontrava-se em estado de pura embriaguez emocional, distante em seus pensamentos, segurava entre os dedos um cigarro que se apagava lentamente sem que fosse usufruído. Os transeuntes eram efêmeros e nem o percebiam. Mas ele estava ali, paralisado, desprovido de qualquer ação notória. Seu cigarro chegara ao fim sem que ele o aproximasse dos lábios, seus olhos miravam o plácido horizonte onde as nuvens moviam-se num piscar de olhos. Assemelhava-se a uma escultura viva, e os ponteiros do relógio percorriam sua rota enquanto as velhas tricotavam no banco ao lado. Um barulho insuportável a qualquer ouvido sensível o trouxera a realidade, uma lágrima molhou a fétida calçada como uma chuva instantânea e forte o suficiente para lavar a alma suja de qualquer cidadão em estado de decomposição ainda em vida. Um jovem encontrava-se caído nos trilhos, lavado de sangue, levantando sua mão gritou: “salve-me”, todavia, aquela excessiva  quantidade de cédulas de identidade que por ali passavam o observaram com certo descaso percebido a cada olhar em direção ao jovem e seguiam em frente sem olhar para trás. Em seguida o jovem caiu e ali ficou, os passageiros seguiam seus cursos projetados e o homem saiu caminhando rumo ao nada.

Resiliência

Ela encontrava-se em estado onde emergia as dores do mundo. Sentia sua pele rasgando lentamente, sentia seus olhos murcharem ao contemplar o horizonte distante e gélido. Suas pálpebras pareciam estar fora de si, seu coração pulsava incessantemente. As dores pareciam incessantes, o olhar tão triste quanto a noite sem sua constelação. Sentia-se vazia, sentia a efemeridade da vida, a brevidade de todas as coisas, sentia as dores. As dores do mundo.
Contemplava o vazio escaldante e sólido, imaginava a ausência da hostilidade que habitara o universo e pairava sob cada indivíduo. Imaginava que cada estrela ausente naquela noite mórbida representasse uma vida, uma alma pedindo socorro, pedindo luz. A madrugada fora embora deixando ainda mais vazio inóspito em seu ser.
Um vácuo dilacerava-a até que a purificasse transformando dor em amor, ausência em essência, voltara ao seu estado natural antes da grande catástrofe nuclear aproximasse e adentrasse em seu universo antes hostil a todas as mazelas mundanas.
Aproximou-se do grande espelho da vida e sorriu, um sorriso rasgado, costurado, trazendo consigo as marcas da noite. E olhou firme para o horizonte e renasceu dentro de si uma águia que voara infinitamente para este horizonte sem deixar marcas, sem deixar passos, voou.



 

sábado, 1 de novembro de 2014

Balada de um Homem Comum

Hey viajante, para onde pensas que vai? Para onde pensas seguir? A neve cai lá fora, faz um frio tremendo. Eu estava lá, minhas mãos congelaram, meu corpo estremeceu, minha alma gritava. E tu, pensas que irás sobreviver à tamanha intempérie? Que te faz pensar ser tão forte? A neve segue a cair, congelando corações. Há um verdadeiro estardalhaço lá fora, não muito longe, da janela podemos avistar a dor humana que perambula as ruas gélidas. As calçadas estavam vazias e agora estão cheias. Tu estarás só, as pessoas desaparecerão, e restarão apenas tu e a neve contínua, que permanecerá congelando. E te transformara em um solitário boneco, talvez ela tenha piedade e te presenteie com um cachecol, mas isso será tudo. O resto desaparecerá instantaneamente.