Ela
encontrava-se em estado onde emergia as dores do mundo. Sentia sua pele
rasgando lentamente, sentia seus olhos murcharem ao contemplar o horizonte
distante e gélido. Suas pálpebras pareciam estar fora de si, seu coração
pulsava incessantemente. As dores pareciam incessantes, o olhar tão triste
quanto a noite sem sua constelação. Sentia-se vazia, sentia a efemeridade da
vida, a brevidade de todas as coisas, sentia as dores. As dores do mundo.
Contemplava o
vazio escaldante e sólido, imaginava a ausência da hostilidade que habitara o
universo e pairava sob cada indivíduo. Imaginava que cada estrela ausente
naquela noite mórbida representasse uma vida, uma alma pedindo socorro, pedindo
luz. A madrugada fora embora deixando ainda mais vazio inóspito em seu ser.
Um vácuo
dilacerava-a até que a purificasse transformando dor em amor, ausência em
essência, voltara ao seu estado natural antes da grande catástrofe nuclear
aproximasse e adentrasse em seu universo antes hostil a todas as mazelas
mundanas.
Aproximou-se
do grande espelho da vida e sorriu, um sorriso rasgado, costurado, trazendo
consigo as marcas da noite. E olhou firme para o horizonte e renasceu dentro de
si uma águia que voara infinitamente para este horizonte sem deixar marcas, sem
deixar passos, voou.
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