segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Resiliência

Ela encontrava-se em estado onde emergia as dores do mundo. Sentia sua pele rasgando lentamente, sentia seus olhos murcharem ao contemplar o horizonte distante e gélido. Suas pálpebras pareciam estar fora de si, seu coração pulsava incessantemente. As dores pareciam incessantes, o olhar tão triste quanto a noite sem sua constelação. Sentia-se vazia, sentia a efemeridade da vida, a brevidade de todas as coisas, sentia as dores. As dores do mundo.
Contemplava o vazio escaldante e sólido, imaginava a ausência da hostilidade que habitara o universo e pairava sob cada indivíduo. Imaginava que cada estrela ausente naquela noite mórbida representasse uma vida, uma alma pedindo socorro, pedindo luz. A madrugada fora embora deixando ainda mais vazio inóspito em seu ser.
Um vácuo dilacerava-a até que a purificasse transformando dor em amor, ausência em essência, voltara ao seu estado natural antes da grande catástrofe nuclear aproximasse e adentrasse em seu universo antes hostil a todas as mazelas mundanas.
Aproximou-se do grande espelho da vida e sorriu, um sorriso rasgado, costurado, trazendo consigo as marcas da noite. E olhou firme para o horizonte e renasceu dentro de si uma águia que voara infinitamente para este horizonte sem deixar marcas, sem deixar passos, voou.



 

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