O misterioso visitante
Há
muito tempo estava anunciada a chegada dele, foi esperado, aguardado
com tanto temor, e depois de tanta demora, esquecido.Numa
tarde de domingo, fora anunciado um pequeno animal inofensivo e
indefeso, na rua, passando frio e fome, sendo apedrejado e apanhando
de outros arruaceiros. Comovidos, um jovem casal se locomovera até o
local e com muita dificuldade o capturaram, não fora uma tarefa
fácil, o bicho era deliberadamente agressivo, assustado, e seus
pelos curtos se ouriçavam com a aproximação de qualquer um que
pudesse querer capturá-lo. Algumas horas depois e com um esforço
razoável, finalmente o engaiolaram e levaram para a nova casa. O ser
peludo berrara o caminho inteiro, parecia estar sendo apunhalado e
espancado dentro do automóvel. Seus gritos eram estridentes, as
pessoas que pela rua caminhavam olhavam com pavor para dentro daquele
veículo, o próprio parecia sentir desespero tamanho era o pânico
do animal.Até
que enfim chegaram em casa, aconteceu o esperado, o animal tentara
escapar de todas as formas possíveis, se bateu contra as janelas de
vidro, pulou nas pareceu, arremessou seu pequenino corpo alto, dava
medo de ver a cena, mas calma, este pequeno está horrorizado, e
ninguém o poderia julgar, pois ninguém conhecera o seu passado, o
seu sofrimento, o seu abandono e as suas cicatrizes.Escondeu-se
ao lugar mais provável, em cima da máquina de lavar, próximo a uma
velha basculante emperrada, onde com os olhos ele parecia pensar
conseguir abrir e escapar. Até tentou, mas era impossível, as
basculantes eram realmente enferrujadas e emperradas, e os moradores
tinham dificuldade em manuseá-la, imagina se um ser tão pequeno e
desprovido de uma força capaz de abri-la, conseguiria dar seus
desfecho em fuga.Aquela
noite, fora bastante turbulenta, os demais bichanos ficaram arredios
e com medo, o visitante se encontrava muito assustado e disseminando
o mesmo pelo novo lar. Todavia, sobreviveram todos, um novo dia
amanhecera, tudo seguia do mesmo jeito, muita paciência,
perseverança e compreensão. Em breve a paz voltaria a reinar, era
só esperar o momento certo.Dias
se passaram, o ser arisco permanecia na inércia. Completou uma
semana e ele migrou para debaixo da cama, lá era o seu lugar
predileto, o esconderijo perfeito, o inalcançável por qualquer um
que pudesse vir a querer perturbá-lo, isso na sua minúscula
compreensão felina.Passados
mais alguns dias, ele passara a dormir na cama do casal, começara
lentamente se mostrar doce e amigável, seriam-lhe a comida ali
mesmo, no quarto, para evitar transtornos. Ele fora se moldando aos
hábitos dos demais animais do recinto, e começou sair mais do
quarto, ainda tinha medo de ir ao banheiro, beber água e se
alimentar fora do quanto, mas tinha de enfrentar o inimigo, o inimigo
era o medo que sentia. Tentara interagir com os outros quatro
animais, mas teve sucesso apenas com um deles que o apoiara e o
recebera bem desde que chegara à casa, as fêmeas o expulsavam de
perto. Mas era uma questão temporal, e tudo fluiria naturalmente e
bem.Quando
completou um mês de estadia, agora de visitante, passara a
permanente, visto que fora detectado que já era um ancião, e o
casal se comovera e decidira ficar com o bichano, visto que era como
um bibelô vivo, pouco se manifestava, quase nunca miava, se banhava,
e era tranquilo, e, o que mais pesava, quem ficaria com um velho gato
recolhido das ruas? Estava definitivamente decidido, Churchill era
agora oficialmente da família.Os
elogios começaram aumentar, os carinhos, a liberdade em passar dias
e noites na cama, como um rei, um soberano que mal chegara e começa
a governar o local. Os demais felinos indignados iniciaram uma sútil
batalha contra o então nobre rei. Aquele que outrora fora um bom
anfitrião se revoltara ao ouvir os elogios ao novo morador da casa,
Churchill fora encontrado na rua, no entanto, tinha classe, educação
e delicadeza, caprichoso e era extremamente gentil com os novos
donos. O gato branco mudara repentinamente o comportamento dando
início a uma dura batalha, e aquilo parecia ser o princípio de um
inferno sem fogo. Mas o que o gato branco não imaginava era ao
ataque furioso de Churchill, a maldição estava por começar,
Churchill começara a rebater aos ataques de fúria do gato branco,
era como se uma luta entre o bem e o mal fosse travada. As energias
passaram a acinzentar-se, o reconto tornara-se pesado. Os gatos
brigavam entre si, a discórdia estava instalada ali.O
casal não sabia o que fazer, com eles, o gato cinza era amável, e
eles percebiam a agressividade do gato branco para com o cinza. O que
eles não sonhavam é que o gato cinza era o demônio, que viera para
destruir aquela família de gatos, antes harmoniosa, por fim, um a
um desapareceu misteriosamente, só restara Churchill, o demônio
invencível. E lá permaneceu sendo o único e adorado bichano da
casa.
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