quarta-feira, 24 de maio de 2017

O misterioso visitante

Há muito tempo estava anunciada a chegada dele, foi esperado, aguardado com tanto temor, e depois de tanta demora, esquecido.Numa tarde de domingo, fora anunciado um pequeno animal inofensivo e indefeso, na rua, passando frio e fome, sendo apedrejado e apanhando de outros arruaceiros. Comovidos, um jovem casal se locomovera até o local e com muita dificuldade o capturaram, não fora uma tarefa fácil, o bicho era deliberadamente agressivo, assustado, e seus pelos curtos se ouriçavam com a aproximação de qualquer um que pudesse querer capturá-lo. Algumas horas depois e com um esforço razoável, finalmente o engaiolaram e levaram para a nova casa. O ser peludo berrara o caminho inteiro, parecia estar sendo apunhalado e espancado dentro do automóvel. Seus gritos eram estridentes, as pessoas que pela rua caminhavam olhavam com pavor para dentro daquele veículo, o próprio parecia sentir desespero tamanho era o pânico do animal.Até que enfim chegaram em casa, aconteceu o esperado, o animal tentara escapar de todas as formas possíveis, se bateu contra as janelas de vidro, pulou nas pareceu, arremessou seu pequenino corpo alto, dava medo de ver a cena, mas calma, este pequeno está horrorizado, e ninguém o poderia julgar, pois ninguém conhecera o seu passado, o seu sofrimento, o seu abandono e as suas cicatrizes.Escondeu-se ao lugar mais provável, em cima da máquina de lavar, próximo a uma velha basculante emperrada, onde com os olhos ele parecia pensar conseguir abrir e escapar. Até tentou, mas era impossível, as basculantes eram realmente enferrujadas e emperradas, e os moradores tinham dificuldade em manuseá-la, imagina se um ser tão pequeno e desprovido de uma força capaz de abri-la, conseguiria dar seus desfecho em fuga.Aquela noite, fora bastante turbulenta, os demais bichanos ficaram arredios e com medo, o visitante se encontrava muito assustado e disseminando o mesmo pelo novo lar. Todavia, sobreviveram todos, um novo dia amanhecera, tudo seguia do mesmo jeito, muita paciência, perseverança e compreensão. Em breve a paz voltaria a reinar, era só esperar o momento certo.Dias se passaram, o ser arisco permanecia na inércia. Completou uma semana e ele migrou para debaixo da cama, lá era o seu lugar predileto, o esconderijo perfeito, o inalcançável por qualquer um que pudesse vir a querer perturbá-lo, isso na sua minúscula compreensão felina.Passados mais alguns dias, ele passara a dormir na cama do casal, começara lentamente se mostrar doce e amigável, seriam-lhe a comida ali mesmo, no quarto, para evitar transtornos. Ele fora se moldando aos hábitos dos demais animais do recinto, e começou sair mais do quarto, ainda tinha medo de ir ao banheiro, beber água e se alimentar fora do quanto, mas tinha de enfrentar o inimigo, o inimigo era o medo que sentia. Tentara interagir com os outros quatro animais, mas teve sucesso apenas com um deles que o apoiara e o recebera bem desde que chegara à casa, as fêmeas o expulsavam de perto. Mas era uma questão temporal, e tudo fluiria naturalmente e bem.Quando completou um mês de estadia, agora de visitante, passara a permanente, visto que fora detectado que já era um ancião, e o casal se comovera e decidira ficar com o bichano, visto que era como um bibelô vivo, pouco se manifestava, quase nunca miava, se banhava, e era tranquilo, e, o que mais pesava, quem ficaria com um velho gato recolhido das ruas? Estava definitivamente decidido, Churchill era agora oficialmente da família.Os elogios começaram aumentar, os carinhos, a liberdade em passar dias e noites na cama, como um rei, um soberano que mal chegara e começa a governar o local. Os demais felinos indignados iniciaram uma sútil batalha contra o então nobre rei. Aquele que outrora fora um bom anfitrião se revoltara ao ouvir os elogios ao novo morador da casa, Churchill fora encontrado na rua, no entanto, tinha classe, educação e delicadeza, caprichoso e era extremamente gentil com os novos donos. O gato branco mudara repentinamente o comportamento dando início a uma dura batalha, e aquilo parecia ser o princípio de um inferno sem fogo. Mas o que o gato branco não imaginava era ao ataque furioso de Churchill, a maldição estava por começar, Churchill começara a rebater aos ataques de fúria do gato branco, era como se uma luta entre o bem e o mal fosse travada. As energias passaram a acinzentar-se, o reconto tornara-se pesado. Os gatos brigavam entre si, a discórdia estava instalada ali.O casal não sabia o que fazer, com eles, o gato cinza era amável, e eles percebiam a agressividade do gato branco para com o cinza. O que eles não sonhavam é que o gato cinza era o demônio, que viera para destruir aquela família de gatos, antes harmoniosa, por fim, um a um desapareceu misteriosamente, só restara Churchill, o demônio invencível. E lá permaneceu sendo o único e adorado bichano da casa.



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