domingo, 17 de novembro de 2013

Laranjas de Henri para canibais



E assim mais um dia clareava, Henri se levantara, preparara seu café da manhã e logo iria até seu pomar colher laranjas. Henri era um homem solitário e afável. Afável com sua plantação de laranjas que era tudo o que possuía. Perdera os pais logo cedo, fora criado por sua tia Dolores que tentou ajudá-lo e compensar a perda da família.
Crescera isolado, sua tia era tão solitária quanto ele, não havia se casado, tampouco teve filhos. Logo que adquiriu maturidade Henri se mudara da casa da tia. A distância entre ele e a tia era glacial. A tia parecia viver distante dali, mas era muito boa para Henri.
Partira e começara nova vida nas montanhas da região, Henri gostava de mexer com a terra, sentia-se bem em meio às plantações da tia onde crescera e aprendera como adubar, plantar e cuidas das hortaliças. Levou consigo o gosto pela terra.
Refugiou-se em meio aos capinzais abandonados, adquiriu uma terra dita improdutiva e amaldiçoada. O antigo dono daquele lugar o alertou de que a terra era infértil e que não lhe renderia bons frutos.
Henri não se importara com o aviso e pensou consigo mesmo que tudo que aprendera aplicaria e que teria uma colheita fértil e abençoada. Exterminou os inços, limpou o terreno, plantou flores, limpou a velha cabana. Pronto, em poucos meses aquele lugar estava transformado, lindas flores cresceram, os pássaros começaram a se aproximar, borboletas voavam pelos céus da velha montanha esquecida que jazia efervescida até a chegada de Henri.
Henri investiu em uma belíssima plantação de laranjas, escolheu esta fruta por ser apreciador de seu sabor doce e cítrico. Mas algo lhe faltava. Henri era solitário desde a infância, queria ter uma boa companhia, mas as moças da região o achavam um tanto excêntrico e com isso se assustavam. Ele não era como os demais camponeses da região. Isso o deixava ainda mais isolado e solitário.
Henri vivia como um ermitão, seu companheiro era um gato, o único ser com quem Henri convivia. Henri era um leitor assíduo, acompanhava tudo o que se passava na região, no pais e no mundo, ele assinava jornais e revistas, adquiria livros, tinha gosto notável pela leitura. Isso fazia com que os camponeses locais o achassem ainda mais excêntrico, ora pensavam eles, um camponês, que vive isolado e planta laranjas cultivar o gosto pela leitura, e sim, somente por causa de Henri o carteiro subia a velha e ingrime montanha periculosa. Mas ele sentia falta de pessoas, na verdade ele queria uma vida normal, simples como a dos camponeses vizinhos que moravam na parte baixa da montanha. Como algo tão singelo poderia ser impossível a ele, refletia.
Henri amava ler, adorava a companhia do seu fiel gato, adorava cozinhar, aprendera diversos pratos com a tia Dolores. Ele não sentia falta de alguém para limpar, cozinhar e ou lavar seus trajes, mas sentia falta de ter alguém com quem pudesse dividir os seus dias, contar-lhes como passou, o que sentiu, como qualquer humano dito normal gostaria de assim ter uma companhia.
Uma destas manhãs gélidas, quando caia uma neblina Henri não iria ao pomar, preparou um chá e pensava em um meio de conhecer garotas, mas teria que ser de outro local. As moças dali não se interessavam por ele. Teve uma idéia, começou escrever cartas. Todas as segundas-feiras ele ia até o vilarejo e encaminhava uma carta a uma determinada donzela, na expectativa de ser correspondido. O tempo passou, numa destas manhãs uma surpresa para Henri, uma carta enviada a ele por uma jovem.
Apressadamente abriu e a leu, uma jovem o correspondera. No mesmo dia Henri retornou a carta. Assim passou mais um tempo até que ela veio visitá-lo.
Henri a esperava ansiosamente, ela viria de longe, e tudo o que ele imaginava é que agora teria uma noiva, uma companheira e amiga. Depois de longo tempo que mais parecia a eternidade, a eterna solidão e um grande vácuo em sua vida, finalmente ele tinha esperanças de que não mais seria um solitário.
Em menos de uma semana Helena chegaria ao mórbido vilarejo e seria conduzida por Henri até a velha cabana. Henri fizera uma grande limpeza fora e dentro da casa. Limpara o pátio, lavara tudo, e preparara um banquete para esperar sua futura amada.
Os dias e noites passaram brevemente e o grande dia chegou. Henri descera até o vilarejo para recepcioná-la na estação férrea. Ela chegaria de trem por volta das 16 horas de uma quinta-feira. Henri chegara à estação férrea com uma hora de antecedência, ficou por ali fazendo tempo, leu o jornal local, tomou uma caneca de café e esperou.
Finalmente o trem zumbiu em seus ouvidos, ela estava vindo pensou ele. Assim que o trem parou e as pessoas começavam descer, o coração de Henri parecia que saltaria de si. Helena fora uma das últimas passageiras a descer. Ele a conhecia por fotografia que ela enviara a ele em suas trocas de cartas. Finalmente ela surgiu e seus olhos brilharam. Ele ficara encantado com sua beleza, Helena era jovem com boa aparência, era fina e delicada aos seus olhos. As moças das redondezas não possuíam aqueles ares, aquela postura e delicadeza de Helena.
Henri lentamente aproximou-se da dama distinta apresentando-se, pedindo para carregar sua bagagem, convidou- a para um chá. Sentaram-se em um destes bares de estações ferroviárias, conversaram sobre a viagem enquanto degustavam o chá com bolachas e geleia. A jovem Helena pouco falava, mais ouvia, na verdade mais respondia às perguntas de Henri. Este estava estarrecido, como se estivesse sido congelado, não acreditava naquilo que seus olhos viam, mas tentava manter a calma e ser diplomático com a moça, também não queria assustá-la.
Depois do chá Henri pediu a um carroceiro que os levasse até o cume da montanha, e assim foi. Helena não dera um pio se quer, foi quieta durante todo o percurso, chegando lá Henri pagou o velho carroceiro e agradeceu-o pela gentileza de tê-los levado ao cume, nem todos aceitariam levá-los para casa devido a dificuldade de chegar ao local.
Henri pediu se Helena precisava de ajuda para desfazer a bagagem, então juntos arrumaram seus pertences em uma parte do armário de Henri que estava vazio esperando a chegada da moça. Depois disso caminharam pela montanha, Helena se encantou com a quantidade e variedade de aves que ali habitavam. As plantas também a deixaram perplexa por tamanha beleza e colorido que possuíam. Henri mostrou a montanha, o jardim, a horta, o seu fiél amigo gato, e por fim a plantação de laranjas.
Helena nunca tinha visto um laranjal tão extenso e bem cuidado como o de Henri, ele se defendeu dizendo que aquilo era a vida dele, amava tanto aquelas laranjas quanto sua mãe que morrera precocemente e além do mais tirava seu sustento dali, das laranjas.
A noite caiu, eles adentraram a velha cabana, enquanto helena se bahava, henri preparava uma sopa, fazia frio e este prato seria ideal para a noite. Em seguidam após Helena sair do banho, Henri foi tomar o seu. Jantaram, conversaram um pouco sobre a viagem, o dia, o passeio na montanha e deitaram-se. Henri ficara constrangido em aproximar-se de Helena, ela parecia educada mas arredia então dormiu no sofá da sala cedendo sua cama à dama que vinha de longe para vê-lo.
Na manhã seguinte Henri como de costume acordara cedo e preparara um saboroso café da manhã e levara para Helena, a jovem vislumbrou com aquele ato tão gentil de Henri, tomaram o café, ela semi deitada e ele na beirada da cama, posterior a isso Helena levantou, conversaram mias um pouco, sobre a noite e seus barulhos, dobre os sonhos e logo começavam os preparativos para o almoço.
A princípio tudo corria bem e amigável. Alguns dias passaram e tudo seguia igual. Uma noite Henri convidou Helena para fazerem uma fogueira, e contarem velhas histórias e lendas, a moça achou uma boa ideia. A noite caiu e Henri acendia as labaredas, logo em seguida sentaram-se ao redor do fogo, naquela noite fazia um frio considerável e o fogo foi muito útil para aquece-los, o gato estava ali presente, como que se ouvisse as histórias, horas e horas passaram, a neblina começara cair e eles resolveram entrar. A madrugada era convidativa para que dormissem juntos, ambos queriam mas nenhum tinha a devida coragem de tomar a iniciativa. Então como de costume Henri foi se encaminhando para o sofá e foi quando Helena o chamou para a cama alegando o frio. Henri nem pensou duas vezes e mudou-se para a cama rapidamente. E aquilo foi uma explosão inexplicável de amor e sexo e orgias, barbantes, arames farpados rosas e seus espinhos, velas respingando-lhes, tudo se transformou depois daquela fogueira que os aqueceu por completo invadindo seus corpos sedentos. Se acabaram naquela madrugada fazendo tudo o que lhe era permitido e não permitido.
O dia se fez, ambos se olhavam perdidos como dois estranhos. Mas com o passar das horas o clima de tensão foi se diluindo em reciprocidade dialógica.
O dia seguiu como de costume, laranjas, jardim, cortar a grama, cozinhar, lavar, se banhar, mas quando a noite chegava era como se um lobo uivasse no alto das montanhas e incendiava avelha cabana, os dois se terminavam literalmente falando. E assim foi por um tempo.
Mas Helena começara a sentir tédio, a mesma rotina, o mesmo lugar, tudo igual sempre e pediu a Henri que a levasse ao vilarejo. E assim foi, Henri fez a vontade de sua dama e a levara para passear na vila. Porém como ele tinha muitos afazeres nas montanhas deixava a jovem amada e subia para cuidar de suas laranjas que exigiam demais dele. E Henri disse a ela que pedisse para que um carroceiro a levasse pra casa quando enjoasse do passeio.
Pois assim foi, Helena passeou, comprou guloseimas fresquinhas da padaria, comprou flores, vinho e tomou o chá que era servido categoricamente as 17 horas, e por fim pediu a um carroceiro que passava por ali que a levasse até as montanhas.
Tudo certo até o momento que a carroça falhou e eles ficaram ali por um bom tempo esperando ajuda. Conversaram, comeram os quitutes e beberam o vinho. E depois disso saíram de si, e Dioniso se fez presente e já se imagina o restante da história. Muito além daquilo um outro carroceiro passava por ali, e os ajudou a consertar a carroça do homem e ele levou a dama até as montanhas.
Lá Henri esperava aflito pela sua companheira e agradeceu ao carroceiro por traze-la em casa, eles explicaram de modo muito dissimulado o porquê do atraso e o homem desceu a montanha. Henri e Helena conversaram sobre coisas triviais, tomaram um café acompanhado do jantar que Henri havia preparado para esperar a noiva e deitaram-se. Adormeceram tamanho era o cansaço de ambos, Henri exausto de trabalhar nas laranjas, Helena cansada devido à orgia cometida com o carroceiro. Helena dormia feito um bebê recém nascido e aconchegante junto da mãe, enquanto Henri pensava na história contada por ela e o carroceiro. Virava de um lado para o outro na cama e nada de dormir apesar do cansaço físico, levantou caminhara para lá e para cá, e Helena dormia um sono tão profundo que nem uma tempestade a acordaria. Henri sentou-se na poltrona e acariciava seu gato, deu-lhe um pouco de leite e saiu caminhar lá fora, olhava para o céu, para a lua que estava divina, era lua cheia e lhe ofuscava os olhos tamanho era seu brilho. Caminhou mais um pouco e foi até uma velha casinha onde guardava velharias, e encontrou o machado e entrou na cabana. Adentrou o quarto, apreciou por horas Helena dormindo, sua beleza, sua suavidade, sua pele de pêssego rosado e num golpe fatal a esquartejou em muitos pedaços. Em seguida cavocou vários buracos em sua plantação de laranjas e foi enterrando um a um.
Na próxima colheita a clientela elogiava o novo sabor das laranjas dizendo que tinham sabor diferente das outras, e todos queriam saber o que Henri havia usado para adubar a terra e deixar as laranjas tão saborosas.
Quanto à Helena, ela nunca mais partiu, permanecendo ali para todo o sempre e fertilizando a plantação de Henri.






















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