sábado, 16 de novembro de 2013

Irmãos de sangue

Nicolas crescera junto da irmã de criação, Eulália, corriam pelos campos verdes, subiam em árvores, cultivavam os mesmos gostos por quase tudo, eles tinham apenas uma diferença. Nicolas não tinha a mesma saúde de Eulália. Enquanto a menina tinha bochechas rosadas, fôlego pra correr, e uma saúde invejável, Nicolas sofria com falta de ar, de ânimo e era portador de uma palidez que o deixava semelhante a um moribundo. 
A menina Eulália era alegre, dona de uma vivacidade exuberante e feliz. Corria velozmente atrás das borboletas, quando a noite chegava sentia sono e se acabava em sonhos na madrugada, enquanto o pequeno Nicolas sofria de insônia, até mesmo a comida parecia lhe pesar. Nicolas freqüentava os mais diferentes médicos, e nada era descoberto sobre sua doença misteriosa. Os anos passavam, e tudo seguia como a velha infância atormentadora a Nicolas.
Ambos cresceram, tornaram-se adolescentes, freqüentavam a mesma escola, Eulália tinha amigos, gostava de ler e tudo se saíra como a qualquer outro jovem com boa saúde. Nicolas era solitário e encontrava dificuldade nos estudos.
Aos poucos eles se tornavam como uma espécie de estranhos um ao outro. O mundo em que viviam já não parecia ser o mesmo, e Nicolas sentia-se cada mais só e perdido em meio à vida, que já desde a infância lhe era sombria.
Mais alguns anos se passaram e Eulália ingressara na faculdade, a jovem começara o curso de medicina, queria desvendar a cura para a misteriosa doença do irmão, descobrir meios onde pudesse ajudar as pessoas que sofriam de doenças enigmáticas, ela crescera num ambiente atordoado pela doença de Nicolas, e sabia o valor que era possuir boa saúde.
Turbulentos anos estavam por vir, a doença de Nicolas chegava a um ápice irreversível, onde já não se sabia mais como lidar com aquela situação delicada que a família compartilhara desde seu nascimento.
Eulália dedicava-se aos estudos e pesquisava incessantemente para tentar encontrar uma solução para o irmão quase moribundo. A jovem acreditava que a misteriosa doença do irmão pudesse estar relacionada ao seu sangue, então tendo isso como um princípio para sua busca, iniciara uma investigação de doenças hematológicas. Eulália tinha o auxílio de seu mentor, um futuro ancião apaixonado pela medicina e pela cura. Fizeram alguns testes utilizando vários tipos sanguíneos e decidiram conglomerar e ver o que acontecia juntamente com o sangue de Nicolas.
Nicolas fora submetido à inúmeras inoculações sanguíneas, depois de um tempo sendo cobaia, as coisas começavam a mudar e Nicolas já parecia mais forte, corado, aos poucos foi melhorando. Porém aquele estágio de tratamento não durara muito tempo, assim que as dosagens de medicamentos iam diminuindo os velhos sintomas retornavam lentamente ao corpo de Nicolas. Já não se sabia mais o que fazer, como proceder com tal situação de desconforto e desespero.
Nicolas oscilava entre a casa da família e hospitais, os sintomas não cessavam, mas mesmo assim Eulália estava sempre buscando novas alternativas para a possível cura do irmão.
Entre idas e vindas, submissões à medicina, sendo cobaia e tendo o corpo totalmente perfurado por agulhas Nicolas reagiu agressivamente dando um basta aquilo e pediu que o deixassem morrer em paz, na casa da família, onde lá ele teria sossego, não sentiria tais dores devido ao tratamento que o torturava. Já em estado de debilidade profunda, e sem forças para aguentar ainda o tratamento experimental, os pais de Nicolas acataram seu desejo, já interpretando como o último. Então desde que Nicolas estava decididamente certo de que não sairia mais de casa, ao menos seu humor melhorou, o jovem sentiu-se descansado, pois já tinha chegado ao ápice aquela tortura cuja qual fora submetido pela futura médica Eulália.
Em uma manhã de domingo Eulália como de costume veio visitar a família, trazendo gostosuras da cidade e chegando ao campo colhera flores para alegrar a velha casa moribunda da família. Entrou em casa, beijou o pai, beijou a mãe, cumprimentou os empregados, colocara as flores na água e fora até o quarto mórbido de Nicolas, chegando lá encontrara o garoto dormindo em um sono profundo, que até parecia estar dormindo há uns cem anos. Eulália o cutucara, falou algumas palavras mas nada de Nicolas acordar. Então quando a jovem deu as costas à cama do irmão ele lançou sobre ela uma flecha que a acertou em cheio, Eulália teve os pulmões perfurados e a fecha atingira também o seu coração. Ela caiu morta ali mesmo em poucos segundos e Nicolas conseguira morrer em paz.









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