domingo, 29 de abril de 2012

O açougueiro de Monteville

O homem chegara a cidade por volta da meia tarde, sentou num banco, acendeu um cigarro, aguardou um instante, os transeuntes caminhavam alguns mais apressadamente que outros. Algumas moças riam enquanto tomavam sorvete, senhoras sentadas nos bancos próximos alimentavam os pombos, outros passeavam com seus cães.
Seguindo a multidão Henri seguia a seu destino, onde Harry o esperava ansioso.
Harry era o misterioso açougueiro de Monteville, uma pequena cidade ao sul da França, chegara lá a pouco menos de um ano, ainda ninguém o conhecera, devido ao seu ar hermético. Esperava o visitante com um refinado jantar, e uma boa bebida. A tempos Harry não se sentia tão vivaz, sua vida era sem grandes acontecimentos, trabalhava o dia todo cortando carne, e fora isso, ficava em casa, sempre sentado em sua poltrona a esquerda da grande sala vazia, e próxima à janela, que é de onde Harry apreciava a noite e o brilho opaco das estrelas, e assim passavam dias e noites.
Bateu a porta, Harry tirou seu avental sujo, penteou os cabelos, viu-se no espelho, sentia-se pálido e envelhecido, queria causar boa impressão ao amigo vindo de longe, cujo qual desde que mudara para Monteville não via mais. Quando Harry abriu a porta e deu de cara com Henri, surpresa fora tanta, que perdeu a fala, estava perplexo com a mudança do amigo, e ao mesmo tempo não acreditava ter em sua frente a presença do velho companheiro.
Entraram, Henri contou-lhes da viagem, do longo percurso que percorrera, das horas que passara a observar os moradores de Monteville. Enquanto isso Harry arrumava uma bebida, estava frio, fez fogo na velha lareira, beberam, conversaram, depois foram jantar, e ao mesmo tempo que faziam a refeição, Harry perguntou a Henri sobre o que andava escrevendo, e também falou como tinha sido este ano na cidade, contara de suas dificuldades, da curiosidade que despertava no moradores, assim as horas passaram, até que amanheceu o dia e eles continuavam ali intactos. Depois de tomarem o café da manhã, saíram passear pela cidade e tomar um sol, fazia frio. Em seguida foram até o açougue, onde Henri se deparara com a realidade em que o amigo se encontrava, animais mortos, e naquela manhã acompanhou o trabalho árduo e indecente do amigo. E os negócios para Harry não iam bem, visto que cada vez mais aumentavam suas dificuldades em viver naquele lugar, que até aquele momento para ele era inóspito, as pessoas sentiam medo de Harry, acreditava o amigo que não frequentavam seu açougue por este motivo.
Durante o almoço, Henri teve uma idéia, a qual compartilhou com Harry, ele simulara uma nova vida ao amigo, dali para diante aconteceria algo que se o amigo aderisse, sua vida poderia estar ajeitada, e finalmente sair daquela vida de miséria. Henri, com sua imaginação fértil e tentadora, sugeriu ao amigo que começasse apresentar novos produtos aos cidadãos montevillenses, Harry, espantado, perguntou como poderia, se a vida toda só conhecia a respeito da morte e seus cortes. Então, Henri foi claro e objetivo alertando que não deixaria de fazer o que faz sentido para ele, que não seria nada difícil, considerando que o açougueiro fosse um sujeito interessante, de olhos azuis, barba por fazer e cabelos desgrenhados, sem contar o ar misterioso, e sua elegância. Harry, mais espantado ficava, a medida que Henri ia descrevendo-o, e tentando assimilar o que uma coisa tinha a ver com outra.
A conversa perdurou o decorrer do dia. Durante a noite, quando se encontravam num café da cidade, o amigo o revelou o que pensara. E a apartir deste momento, as coisas iriam tomar um novo rumo.
Na manhã seguinte Harry tratara com mais atenção de sua aparência, fora a barbearia, comprara roupas novas, adquiriu um novo ar, era um novo homem, nem mesmo Harry acreditava na transformação do amigo.
Passaram a sair mais pelas noites de Monteville, as pessoas olhavam estranhamente para a nova aparência do açougueiro misterioso, ele despertara a atenção dos moradores. Harry se tornara da noite para o dia a ser agradável e sociável, mudando assim seus relacionamentos até então inexistentes com os habitantes da pequena Monteville.
As coisas mudavam, eram noitadas de bebedeiras e jogos. Em pouco tempo, desde a chegada de Henri, a casa do Harry passara a ser freqüentada, oferecia banquetes a seus convidados. Tudo ocorria muito bem, e o plano de Henri começava a se concretizar.
Num destes jantares, Harry seduzira sua primeira vítima, um cidadão respeitável, de méritos, depois do jantar, e de terem bebido muito, Harry tinha sua obra prima, tranformara o homem em fragmentos, que naquela mesma madrugada, o temperara delicadamente, e, no dia seguinte oferecia a seus clientes.
E assim foi, era uma vítima por noite, e o açougue começou a lhe render uma pequena fortuna, a carne era forte, saborosa, e cada vez aumentava mais a procura por sua nova mercadoria. Quando os clientes lhe comentavam da mudança brusca em Harry e no que oferecia em seu açougue, Harry, dizia que havia se especializado, e buscado algo primoroso, tão quanto uma obra de Mozart.
Na medida que seu negócio aumentava, moradores se mudavam, iam embora de Monteville, sem deixar rastros. E Harry sempre a oferecer jantares em sua casa.
Ninguém desconfiara de nada, Harry, com a ajuda do amigo, depois de ofertar um belo jantar a homens de Monteville, os transformava em alimento depois. Era sempre o mesmo ritual, bebiam, jantavam, tornavam a beber e depois a carnificina. Ele usava seu machado afiado, e decepava a cabeça de suas vítimas, e o sangue percorria pelo assoalho velho de madeira, penetrava pelas frestas, depois disso, com toda delicadeza, Harry cortava a carne, temperava de modo que a tornasse especial e atrativa, embalava e as vendia aos cidadãos Montevillenses.
O sabor agradava a todos, Harry quase não dava conta, o interesse era tanto, que quase não podia suprir os desejos de seus clientes.
Pouco a pouco, a população masculina sumia de Monteville, e um mistério assombrava a pequena cidade. Percebendo isso, Henri e Harry, da mesma forma que os outros homens daquele local, sumiram, de forma semelhante aos outros, porém com um final diferente. Seguiram dali, já possuíam uma grande quantia em dinheiro, e recomeçaram tudo em outro lugar, onde diferente de Monteville, foram bem recepcionados pela população. E tudo seguia como antes.










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